domingo, 10 de abril de 2011

A Saga de Paulinho Láparo, o Magro - Capítulo XIII

Toda segunda-feira, um novo capítulo

Capítulo 13  -  Poças


Alhures, 10 de abril de 2011

Anelize,

Sei que você está bem. O sol não se atreveria a nascer, se não estivesse absolutamente certo da luz que você emana, quando está radiante. O astro-rei necessita desta luz para completar a própria e, ambos, serem capazes de iluminar a vida na Terra. Hoje está dia claro e céu azul, que é o dos seus olhos. Mesmos olhos que, à noite, são pouso de estrelas e luar.
Querida, infelizmente, a moeda tem duas faces. A outra é a minha vida, que, sem você a meu lado, não existe. Não consigo vislumbrar os caminhos que descruzamos e nos afastaram. Vivo um dia após o outro, soprando rapidamente o ontem do meu viver e ansiando pelo amanhã. Talvez, nele possa estar você.
Estou perdido em recordações. Revivo cada segundo do dia em que a conheci. Depois, entendi que a amava quando vi um pequeno atraso ser suficiente para enegrecer meu coração com a possibilidade da sua indiferença.
Ah! Quando descobri meu amor por você, descobri também como é delicioso ser tolo. Você notou a carpa diferente das demais:
- Bela, como uma pintura de Deus!
Da ponte, saltei vestido e sem pensar para a água verde do lago do parque. Seu espanto a fez tão linda!
- Que isso, meu Deus?
- Quis pegar a carpa pra você!
Sua risada impediu que me sentisse ridículo.
Éramos como pedras da nascente de um rio: toscas, brutas, ásperas e disformes. Felizes! Amor supremo! Infinito... Posto que é chama? O fio da vida nos fez rolar pelo rio do nosso amor. Fomos nos aparando. À foz, chegamos lapidados, polidos, mas desbotados. E, oh, dor! Separados. Aos poucos, nossos encontros nos transformaram. Inexplicável. Eram tão intensos! Nos amávamos tanto!
E você se foi. No instante que meus olhos perderam os seus, voltei-me e caminhei sobre os meus passos. Tinha que reviver o momento em que descobri ser louco por você. Não se entra duas vezes no mesmo rio.
Hoje, minha vida é silêncio. Silêncio que fere e não conta o porquê. Mas é silêncio, na espera da sua risada. Se ela um dia vier, não será mais.
Anelize, sou eu. Aquele que um dia teve o quis, o sim e seus ais de prazer.
A saudade é espessa, inquilina da minha dor. A solidão se confessa. E, mesmo que acabe... 
A primeira face da moeda é você, Anelize. Sua vida, seu riso, seus lugares... sua distância. E sabe de uma coisa, querida? Não duvido do seu amor por mim. Existem dois mais tolos que nós?
Da minha parte, a tolice me conduz a uma obediência constrangida. Espero a chuva cair. Saio às ruas contando poças. Para ver meu céu, abaixo a cabeça. Gongórica sentença de um tribunal que condenou um coração ao rés da sarjeta, sem conhecer seus sonhos de amor.
Assim, me despeço, deixando o meu beijo à espera do seu.
Com amor...

As lágrimas molharam o papel, gota a gota. Nasceram na primeira palavra e cresceram na angústia que invadia o peito, a cada letra. Mais uma vez não conseguira falar de sua filha. É impossível enviar uma carta assim.
Paulinho Láparo, o Magro, olhou a rua. Não pôde ver o luar chamando os namorados. O pranto fez cortina. O sono encerrou a cena!