domingo, 20 de março de 2011

A Saga de Paulinho Láparo, o Magro - Capítulo XI


Toda segunda-feira, um novo capítulo
 
Capítulo 11º - Mira

Mestre Flam Boyant, o Seco-Florido, não foi capaz de captar as centelhas de ódio no olhar de Paulinho Láparo, o Magro. Apenas deu vaza à casualidade do encontro de ambos em local tão distinto do leito natural de suas vidas. Voltou à piteira do narguilé que lhe cabia. Estava bêbado ou drogado. Ou os dois.
O ódio e a indignação de Cabecinha, ou melhor, de Paulinho Láparo, atingiram a patamares de arremesso. Ia saltar sobre Seco-Florido. Ofegante ao posicionar-se para o bote, indagou de Supo Zitório:
- Quem é você? Como sabia de Flam Boyant?
- Mestre Fulo Bravo, o Irado... Agora, cara? Quer usar todo o espaço do capítulo? Seu ódio vai esfriar. Ódio frio não passa de chilique de bicha. Firme, você é a morte diante de mestre Flam Boyant!
- Ele nem está ligando!
- Vou buscar Enoch Cani.
- Quem é Enoch Cani? Inquiriu Magro, buscando saliva na boca.
- Meu amigo. Agente funerário. Gosta de tomar as medidas do caixão com o cliente ainda vivo. Arrasa psicologicamente! Seu inimigo não vai ignorar isso.
Magro ignorou e deu dois passos na direção do mestre:
- Eu sou a morte diante de você, Mestre Flam Boyant, Seco-Florido de merda, vai morrer!
- Nunca duvidei disso.
- Agora! E nunca mais Neném Cabecinha...
Mestre Flam Boyant, o Seco-Florido, viu o ódio no olhar de Paulinho Láparo, o Magro, e encolheu em sua cadeira. Abriu a túnica e deixou à mostra o cabo de imenso sabre de prata:
- Algum problema em lhe chamar de Neném Cabecinha? Seu pai...
Paulinho Láparo sabia que Supo estava armado. Percebeu o volume sob a camisa do guia. Ergueu o tecido da roupa e apanhou o...
- O que é isso?
Supo, retomando o objeto:
- Um arenque.
- Arenque?
- Vou fazer um ensopado. Tenho que comer, amigo. Aqui está!
- Isso é o pão!
- Ah, sim, desculpe... Claro, um ensopado de arenque com pão... Uma delícia! Você limpa o arenque...
- A arma, Supo, a arma!
Supo colocou o parabelo na mão de Paulinho Láparo.
- Tomei de um alemão que matei na guerra...
Os olhos de Láparo buscaram Seco-Florido na névoa do narguilé.
O estampido estrugiu em círculos, enquanto a fumaça se adensava no ambiente fétido, escuro e apertado onde Supo Zitório se introduzira, levando com ele o Magro. Deu merda! Supo agarrou Paulinho pelo braço e o arrastou para fora.
A madrugada caia em Durrës. A garoa deixava as pedras da rua com um brilho abafado pela neblina. Afastaram-se rápido da tavernë. Foi fácil perderem-se na noite.
- Tenho que tirar você da Albânia, Láparo.
- Você viu onde acertei Flam Boyant?
- Vamos Láparo, rápido!
Magro estancou os passos. Deu um safanão e soltou-se da mão de Supo:
- O que houve? Não acertei?
- Acertou em cheio... Mas fechou os olhos cedo demais!
- O que isso quer dizer?
- Matou a pessoa errada.
Paulinho era fúria e ainda tinha na mão a arma. Saiu correndo na direção da taverna.
- Sem problema...
Supo percebeu o que Magro pretendia fazer. Alcançou Láparo e acertou sua nuca com o pacote do arenque.
Paulinho Láparo foi despertado pelo balanço do bote.
- Desculpe, amigo. Você não podia voltar lá.
- Tudo em vão!
A serenidade na voz de Supo Zitório era verdadeira, quando respondeu:
- Nenhum ato se isola em sua consequência!
- ...
- Você foi capaz de atirar no filho da puta.
- Mas matei o filho da puta errado.
- Ainda assim, um filho da puta.
- Como sabemos que ele era um filho da puta?
- Quem não é?
- E agora?
- A vida segue... Com um filho da puta a menos!

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