domingo, 6 de março de 2011

A Saga de Paulinho Láparo, o Magro - Capítulo IX

 Toda segunda-feira, um novo capítulo
 
Capítulo 9º - Luzes


“Sensação estranha, essa.  Como se sombras estivessem me seguindo”, pensou Paulinho Láparo, o Magro. Não se sentia só, apenas um vazio imenso. De repente, Magro percebeu tudo. Podia resumir assim: ele não estava escrevendo nenhuma história, O que vivia não tinha sabor, não havia o que contar. Faltavam loucuras em sua vida. Todas as pessoas normais fazem loucuras. Por que ele não fazia? Há quanto tempo não me embebedo, por assim dizer?
A Boate Hollywood, Casa de Shows, tinha um amplo salão com duas filas de mesas e cadeiras nas laterais, contornando a pista de dança. As cores das lâmpadas se alternavam. A luz vermelha ardia um desejo sem dono, no peito do Magro.
Ao fundo, um palco. No lado oposto, o bar. A porta que dava para os quartos era dissimulada entre uma paisagem pintada na parede, perto do bar.
A iluminação no tom avermelhado era um truque para deixar as mulheres  ainda mais lindas. Nos dias de baile havia luz negra, destacando o branco de dentes, dos olhos e das roupas.
Àquela hora não havia mais ninguém no salão da Boate Hollywood. Apenas ele. As luzes se alternando em cores diversas, seu encanto crescendo à luz vermelha. Um homem se movimentava no bar. Foi até ele e pediu bebida. Segundos, minutos ou horas depois? Quem quer saber? Os eflúvios da embriaguês envolveram Paulinho Láparo. Do nada, surgiu ao seu lado a mais linda mulher que Paulinho já vira. A luz era vermelha, a mulher loura, de vestido preto e o perfume... um tapete mágico! Uma deusa! Sim, Deusa.
- Oi, quer me ver dançar?
Sem esperar resposta:
- Vou chamar Boneco Saci para dançar comigo. Ele é dançarino.
Da porta escondida na pintura surge um jovem negro de silhueta esgalga, vestindo terno branco. A gravata era vermelha.
- Dançarino, não. Bailarina!
Deusa subiu ao palco e desapareceu no poscênio. Em instantes uma música maravilhosa inundou o ambiente. As luzes do salão se apagaram.  Deusa e Boneco Saci se abraçaram no palco iluminado. O par de dançarinos evoluiu em passos perfeitos. Sua Deusa estava deslumbrante, sob as luzes da ribalta. 
A mulher com um corte provocante na lateral do vestido mostrava a coxa torneada. Usando o par como apoio, se contorcia no ritmo da música. Recostada no braço do dançarino, dobrava-se num arco de mulher. Os seios, apontando o alto, ensinavam a dimensão do desejo. Os cabelos dourados roçando o piso deixavam-na à altura da ânsia de Paulinho Láparo, o Magro. No embalo da melodia, sua perna surgia e se escondia na abertura da roupa, em acenos irresistíveis.
A paixão de Paulinho por Deusa crescia na mesma proporção em que sorvia goles sucessivos. A cada volta de Deusa no bailado voluptuoso, seu olhar cruzava com o de Paulinho. O sorriso de dentes perfeitos abriu o infinito no peito de Magro, descortinou o véu da quimera e prometeu a noite, entre todas as noites de amor.
Dance, doce melodia, acalme a volúpia que arde. Caiba tudo em um instante. Se um minuto passa, um segundo é tarde. Venha agora, minha Deusa, que a balada do tempo não para. Amor, sim, há. Ainda que sopro, assanha meu coração.
O perfume de Deusa retornou, espiralado em torno de Paulinho, como fumaça de cigarro. Tapete mágico! Magro entregou-se como se fosse uma folha seca. Flutuou no espaço. Éter de luzes, sons, sorriso de Deusa, senha de amor. Paulinho Láparo flutuava. Folha seca no ar... Por que ficou tudo escuro de repente? Onde estão as luzes e a música? Ah, as luzes voltaram, mas estão passando. A música ficou estranha... lembra sirene de ambulância!

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