domingo, 13 de fevereiro de 2011

A Saga de Paulinho Láparo, o Magro - Capítulo VI

 Toda segunda-feira, um novo capítulo

 Capítulo 6 - Dedos

É difícil a vida de um sem-respostas. Você está na janela e o que vê não são paisagens que passam. São faces, rostos, caras. Algumas vezes você se vê na multidão. Apenas mais um errante. Neste exato momento, no entanto, é a estrada vazia que passa sob seus pés. Seus pés são os pés de Paulinho Láparo, o Magro, cortando a estrada. O sol de meio dia, um borralho de quente, escancara a boca e deixa livre a língua de fogo cair sobre a cabeça de Paulinho Láparo. Para ele o mundo tornou-se igual, então é assim que
reconhece cada árvore e todas as pedras que estão no caminho que corre sob seus pés, agora em passo curtos, lerdos e chiando na areia fervente. Não estranha aquela boca do inferno. Mas não está só. Alguém cruza aquele ermo e vem em sua direção. Suas sombras se encontram.
- Boa tarde.
- Boa tarde.
- Você disse que seu nome é...
- Não disse.
- Pois lhe digo o meu. Sou Louis Fruit de La Mer e, como paladino da verdade, aviso ao caminheiro que sou um fugitivo da polícia.
- Depois vejo se lhe digo meu nome. Posso perguntar-lhe o que fez para seduzir a polícia, a ponto de trazê-la atrás de você?
- Bobagem! Vendi minha vaga na cela da prisão para o meu carcereiro.
- Paulinho riu gostoso, como há muito não fazia! Vamos ver: você estava preso, trancado na cadeia, e vendeu seu lugar na cela para o carcereiro, o responsável pela sua permanência na prisão?
- Trezentos reais, companheiro! Ele não tinha mais.
- Como conseguiu?
Louis Fruit de La Mer passou a língua sobre os lábios secos:
- Antes, preciso de água.
- Não temos, amigo, e com ou sem água terá que contar essa história. Como passou a perna no carcereiro?
- É fácil! Se você tem uma boa conversa, é cínico, mentiroso, consegue disfarçar a arrogância e fala o que as pessoas querem ouvir, terá 80, 83 por cento delas caindo na sua.
Paulinho Láparo, o Magro, não gostou de Fruit de La Mer e perguntou:
- Tem amigos?
- Amigos, não sei. Bajuladores! Tenho uma nação deles!
- Você chegaria fácil a presidente.
- É o meu sonho, cara! Tem uma dica?
Paulinho Láparo, o Magro, reiniciou sua caminhada. Deu alguns passos, parou e virou-se para Louis Fruit de La Mer:
- Aposte um dedo mindinho no pior cavalo.
Louis Fruit de La Mer, já se preparando para retomar sua fuga:
- Interessante. Vou pensar sobre isso. E você, não quer ser presidente?
- Não!
- Então, vai viajante sem nome, vai ser gauche na vida. Você não imagina como isso pega bem no mundo de hoje...

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